José Araújo.
Mais uma história
para partilhar, desta vez num misto de visita ao baú e homenagem J
Vou aqui
recordar um episódio com o meu antigo treinador José Araújo.
Foi ele que me orientou
enquanto atleta iniciado, juvenil e júnior, naquela idade da adolescência, em
que uma pessoa tem a mania que é o maior, que sabe tudo e se quer afirmar no
mundo. Foi uma sorte e uma mais-valia “apanhar” alguém com a tarimba daquele
senhor para acalmar as animosidades próprias da idade! O treinador José Araújo é
uma daquelas pessoas humildes e divertidas, mas apesar disso tinha uma presença
forte e inspiradora! Aparecia sempre com uma boa-disposição “marota” e sabida!
Contagiante! O nosso grupo até era bem comportado, mas havia sempre aquela
irreverência própria da idade, que de tão natural, só é constatada por quem
está de fora a ver! Apesar da exigência, nunca se chateou com nenhum de nós e
manteve sempre a rédea controlada!
José Araújo foi
um atleta de relevo em maratonas nos anos 50 e sobre ele vou incluir aqui algo
que encontrei na net e que copiei:
“José Araújo foi, antes do triunfo
olímpico de Carlos Lopes, o atleta português que melhores classificações obteve
nas maratonas das grandes competições internacionais: 8º no Europeu de Berna-
-1954; 14º no Europeu de Helsínquia-1958. Tinha 30 anos (n. 3-9-1924) quando
brilhou em Berna, acompanhando os primeiros até aos 38 km de prova. Nesse ano,
conseguira o primeiro dos seus cinco triunfos consecutivos na Maratona
Nacional.
Ele seria o primeiro português a
baixar das duas horas e meia na maratona, chegando a um recorde nacional de 2.28.40,6.
Num país com tradições na maratona,
eram mesmo assim raros os atletas que nos anos cinquenta se aventuravam na
distância. E o desconhecimento de métodos de treino para a maratona era
generalizado. Araújo chegou a correr 52 vezes 200 metros, com outros 200 metros
a andar e a fazer treinos do Campo Grande ao Estádio Nacional e volta.
A par das maratonas, José Araújo fez
provas de pista. E, em 1954, correu 30 km (75 voltas), estabelecendo os
recordes nacionais de 15, 20, 25, 30 km e uma hora em pista, com marcas que
seriam batidas apenas 23 anos mais tarde, por Armando Aldegalega.Terminada a carreira, Araújo ficou
ligado ao atletismo, a treinar os jovens fundistas.”
E a minha história remonta a 1984, num
desses treinos…
Durante o treino disse: “Já não participo em nada há uns
20 anos, vou com vocês correr a Corrida do Tejo! (1984)”. Ficou tudo estupefacto! O velhote ainda queria
correr numa prova?
“Amanhã, vou rolar com vocês! Falta uma
semana e meia, vou fazer alguns treinos!”
Perante tal novidade, ó meus amigos,
a malta no dia seguinte não iria faltar! Com tantos treinos a levar na cabeça, e
a esforçarmo-nos sob as indicações do mister, era a nossa vez de puxarmos por
ele! Vais ver como nós andamos, ó velhote! :)
Se hoje, com 46 anos o meu andamento
médio num treino anda por volta dos 5:05 min/km, imagino que na altura, com 15/16
anos eu andasse mais rápido alguns segundos, alguns mesmo!!! Para o nosso treinador
de 60 anos nos acompanhar, teria que se esforçar! Ia ser desumano! eheheh
No dia seguinte lá estávamos prontinhos
para o treino com o treinador, literalmente! Seríamos os 5 ou 6 do costume,
mais o “mister”!
Arrancámos todos, com a novidade de
um “estranho” companheiro no pelotão e logo nos primeiros instantes reparámos que o treinador ainda apresentava uma
leveza de passada impressionante, apesar dos seus 60 anos.
Arrancámos da 2ª circular em direção ao Campo Grande, com passagem pela Cidade Universitária e volta, dando um percurso de ca. 10 km. Ao fim de cerca de 2 km, já mais ou menos embalados e aquecidos, inesperadamente quem toma a iniciativa é o “mister” e começa a puxar por nós, aumentando o ritmo! Foi tipo um estalo! Zás! Que grande chicotada no ritmo! “Então, mas o homem, o velhote, não corre há tanto tempo e anda aqui a abrir?” “Quererá se armar em bom ou quê? Nós é que temos 15 anos pá!”
Arrancámos da 2ª circular em direção ao Campo Grande, com passagem pela Cidade Universitária e volta, dando um percurso de ca. 10 km. Ao fim de cerca de 2 km, já mais ou menos embalados e aquecidos, inesperadamente quem toma a iniciativa é o “mister” e começa a puxar por nós, aumentando o ritmo! Foi tipo um estalo! Zás! Que grande chicotada no ritmo! “Então, mas o homem, o velhote, não corre há tanto tempo e anda aqui a abrir?” “Quererá se armar em bom ou quê? Nós é que temos 15 anos pá!”
Escusado será dizer o que já se adivinha… levámos todos uma esfrega tal, que lembro-me de na volta, a cerca de 1 ou 2 km do ponto de chegada eu e mais dois companheiros termos ficado para trás umas dezenas de metros, por não conseguir acompanhar aquele andamento diabólico! Olha o velhote, hein???
Talvez nos tenha querido dar uma lição, a nós adolescentes, donos do mundo e arredores? Se calhar foi isso. Mas que lição nos deu!
No final, no
balneário a malta não falou muito do treino, acho eu…
E agora perguntam-me: “E então como
lhe correu a Corrida do Tejo? Ele ficou à tua frente?”
R: “Eh pá... não quero falar disso,
OK? “
Hasta
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